Ao escrever sobre as “Famílias do Bairro Serrinha”, procuro resgatar a história de homens e mulheres que construíram um bairro em nossa cidade com suas presenças, suas forças, esperanças e a obstinação.
Com coragem e esperança buscam sobreviver em um país que, ao longo de sua história, tem lhes deixado a margem do seu desenvolvimento: negou-lhes educação, os benefícios dos avanços da saúde e barrou suas participações na acumulação do capital e no excedente econômico, gerados a partir da sua força de trabalho. Nesse sentido, entendemos a história dos pontos de vista de: Marc Bloch “a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado”. Para Lucien Febvre a “história era filha do seu tempo” é como deveremos entende-la; e analisar a cheda das primeiras famílias ao Bairro Serrenha: os Borges, Félix, Miguel, Lalau, Madeira, Isidro, Luciano, etc., como resultado das as ações dos homens de seu tempo.
Para se entender a imigração que povoou a Bairro Serrinha precisamos recorrer aos acontecimentos que tiveram início nos idos de 1916 e culminaram na revolução de 1930 na Paraíba; o Estado convulsionado, a partir de 1916, com a atomização de protetores de cangaceiros, distribuídos no espaço estadual, cada um ostentava seus bandoleiros como sua reserva de proteção; em cidades como Ingá, Areia. Catolé do Rocha, Misericórdia, Mamanguape, Princesa, entre outros municípios, os coronéis do sertão eram favorecidos pela leniência do governador João Suassuna e acolhidos pelo poder imensurável do Coronel Zé Pereira de Princesa, sobre as instituições do Estado: polícia, justiça e a máquina administrativa. Dono de poder absoluto, em 28 de fevereiro de 1930, Zé Pereira declara independência provisória de Princesa, que passaria a ter hino, bandeira e leis próprias. Dá-se o embate entre as forças federais e os jagunços de Zé Pereira e dos demais coronéis, batalha que ficou conhecida como a Revolta de Princesa. A derrota dos coronéis e a perseguição aos seus seguidores levou a migração de muitos trabalhadores paraibanos, abandonaram sua terra e buscaram abrigo nos estados vizinhos. Muitos desses se abrigaram em Mauriti: a família Borges, a mãe Francisca Borges do Nascimento e filhos Joaquim Borges do Nascimento e Maria Matutinha da Conceição; Manoel Félix de Moura e Maria Martins dos Santos e filhos José Félix, Dionísio Félix, Chagas, Damião, chegaram a Mauriti, os irmãos João Félix de Moura, Francisco Félix de Moura, vindo do ribeirão Dourado; Antônio Miguel e Zé Miguel; mestre Elpídio; seu Anselmo, Camila e o filho Francisco (Chico); Manoel Braz Miranda e Alexandrina Martins dos Santos, filhos Adalgisa Braz, José Braz, Santino Braz e Izabel Braz; Joaquim Lalau, primeiro morador da rua Glicério Leite. Esses são os pioneiros do bairro Serrinha, protagonistas de uma saga que integra de maneira admirável a história nova de Mauriti. Edificaram o bairro, como diz a música “tijolo por tijolo”, ajudaram a criar fortunas, doaram sua cultura, continuam fazendo história e com amor se doam a nossa terra. Todavia, o bairro Serrinha até hoje não os homenageou com nome de rua, a nenhum desses pioneiros lhe foi dado o registro cívico de nomear uma rua; seus primeiros habitantes, divulgaram suas danças, suas músicas, animaram e participaram dos eventos religiosos do bairro, construíram capelas e templos, ajudaram a acumular fortunas, trabalhadores e trabalhadoras que deram seu contributo para a acumulação de riquezas dos potentados mauritienses. As famílias desses pioneiros reconhecem que sua gente merece o reconhecimento da história, a homenagem merecida, uma vez que a Serrinha é o primeiro bairro da cidade, que foi estruturado com base na vizinhança, na solidariedade entre famílias e no entrelaçamento fraternal da auto proteção. Ademais, fica uma indagação quem nomeia, dá nome as ruas do Bairro Serrinha.
