MAURITI A MAGIA DA TELA DO CINEMA: NOSSOS PIONEIROS

A maravilha do cinema é algo indizível, um filme é a expressão do somatório da cultura, da antropologia, da história, da geografia, isto é, síntese da complexidade cultural de uma localidade ou de um povo; reflete sentimentos da gente que, alegoricamente,conta sua história pelas câmaras,traduzindo epopeias, estórias e vidas.

Essa maravilha que teve início com os irmãos Lumiére, em 1895, na França, logo chegou ao Brasil pelas mãos do exibidor itinerante, o belga Henri Paillie, em 1896, no rio de Janeiro; no Ceará a magia do cinema chegou primeiro em Fortaleza, depois no Crato,atravésdeVitorino Di Maio, que inaugurou na cidadecaririense, o Cine Paraiso. Em Mauriti a primeira sala de cinema chegou pelas mãos do pioneiro, que merece nossa gratidão,Abelardo Pinheiro, lojista em Mauriti, mas filho do Município de Barro; seu cinema funcionava na rua Capitão Miguel Dantas, em prédio alugado ao general Teles, na praça dr. Cartaxo. Dezinho (seu Dezim) Ponciano, deu sua contribuição ao mundo do cinema quando instalou na rua Chagas Sampaio, seu cine que funcionava vizinho a farmácia da família e próximo a residência dosponcianos; Rosendo Santana, notável empreendedor instalou seu cinema em sociedade com Geraldo Felipe, na mesma Chagas Sampaio, no prédio da antiga Casa Vênus, loja que pertenceu ao comerciante Chico Pereira; o operador era Claudion, filho de André Leite, barbeiro e delegado de Mauriti; José Nilson de Sousa Leite, década 1960/1970, instalou na Chagas Sampaio o Cine Rex, adquirido em fortaleza, para a época, seus equipamentos eram considerados modernos, seu operador era Deval Andrade, mais conhecido como Deval da Coelce;nas décadas de 1970/1980, Lourival Messias coloca para funcionar o Cine Paroquial; Padre Argemiro um admirador da sétima arte, cedeu os equipamentos do cine paroquial e o prédio, antiga residência do agropecuarista João Augusto de Lacerda, para “Louro” Messias, funcionário da antiga Coelce. Como assinala seu filho, agrônomo Carlos Merival: “Meu pai foi um grande protagonista no ramo de exibição de filmes, portanto logo que contou com a confiança de Padre Argemiro e assumiu a administração de Cine Paroquial, assinou contrado com a distribuidora de filmes que atendia ao Cariri, isto é, até a cidade de Missão Velha; logo, fez um acerto com o comerciante missãovelhense, Luiz Freira que atendia a demanda do comercio de Mauriti de “secos e molhados”, que recebia as fitas (rolos) do cine de Missão Velha e mandava pelo ônibus que fazia a linha juazeiro/Quixabinha.

 

Praça dr. Cartaxo, década de 1960

Os “rolos de filmes”, como são conhecidas as esferas de alumínio que acondicionava as fitas, chegavam em Mauriti as quinta-feira. As películas eram exibidas na quinta a noite, sexta, sábado e muitas vezes aos domingos. A publicidade dos filmes era feita em grande folhas de papel de embrulho, (existente na época) em caligrafia caprichada por Lourival, escrita com tinta seca de engraxar dissolvida em água e um pincel; a propaganda, pela ausência total de meios de comunicação, era comandada pelo Carlos Merival, filho de Louro, acompanhado por outras crianças, cada uma com um cartaz divulgando o filme, o pagamento desses divulgadores era um ingresso para assistir ao filme; próximo ao cinema e em pontos estratégicos eram afixados outros cartazes para maior abrangência da divulgação. Lourival realizava exibições itinerantes dos filmes, em distritos como Palestina e municípios da Paraíba; a projeção era feita em tela improvisada com cavaletes e um grande lençol branco, os cinéfilos levavam cadeiras ou tamboretes para melhor acomodação.As películas mais demandadas eram os faroestes, com Rodolfo Scote;Tazam, com Johnny Weissmuller; seriadosDurango Kid, Besouro Verde, BatMasterson, cuja música se tornou um clássico universal, no Brasil a versão foi interpretada por Carlos Gonzaga.

São nossos pioneiros, abrindo caminhos, como bravos bandeirantes que buscam fincar sua bandeira para conquistar novos espaços; não são espaços físicos, espaços culturais em um município com pouquíssima diversão, em que a cultura nos espia das grandes cidade; Mauriti era um pedaço do mundo isolado dos grandes centros, cuja educação formal era ministrada em escolas isoladas e precárias.

O primeiro cinema de Mauriti chega pelas mãos do sr. Abelardo Pinheiro Lima, filho do município do Barro e comerciante de tecido em Mauriti; Abelardo Pinheiro ao desativar seu cinema, foi substituído pelo cine de Sr Dezinho Ponciano, que ao encerrar suas atividades teve como substituto o cinema de Rosendo Santana e Geraldo Felipe, que também funcionava na rua Chagas Sampaio; substituído pelo Cine Rex de José Nilson de Sousa Leite e por último veio o cine de Lourival Messias que funcionava em prédio da paróquia na antiga casa de João Augusto de Lacerda, na esquina da Major Zé Francisco com Padre Macêdo.

Esses pioneiros representam o empreendedorismo cultural em nossa terra, para com aos quais os mauritienses devem o necessário tributo histórico, como divulgadores da cultura universal, através da exibição de filmes estrangeiros e nacionais, propagadores da cultura brasileira.

Portanto, não importa para onde caminhou a revolução tecnológica, com o surgimento da televisão e das mídias sociais, é essencial que as novas gerações de nossa terra tenham ciência do esforço desses desbravadores, o papel que desempenharam em momento histórico que não se tinha quaisquer ações pública voltadas para o desenvolvimento e a divulgação cultural.

FRANCISCO CARTAXO MELO
Professor da UECE aposentado
Economista/Analista de
Planejamento Seplag/Iplance
aposentado
Consultor organizacional FLACSO
(Faculdade Latino Americana de
Ciências Sociais)

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