Ao assistir a entrevista do jornalista/historiador Laurentino Gomes¹,ao programa Roda Viva da TV Cultura, em 10 de julho corrente, em que ele falava sobre o terceiro volume da trilogia ESCRAVIDÃO, que acaba de lançar, resolvi examinar algumas questões pertinente que ocorrem em Mauriti.
Suas considerações esclareceram muitos pontos cegos sobre pretos e pardos, em suas vias sacras para subsistir ao pensamento escravocrata.Após tomar conhecimento de tantas nuances na vida dos escravos, resolvi examinar com se posta a raça preta em Mauritia partir de informações censitárias do ano de 1970: o censo demográfico nos informa que 65,28% de nossa população era composta, naquele ano, de pretos e pardos; no futebol nossa seleção de 1970, em um grupo de 16 atletas, 11 são negros e 5 considerados brancos; na eleição de 1970 os quatros candidatos a prefeito e os respectivos vices eram todos brancos; os 9 vereadores eleitos todos brancos, muitos deles arrastam o pesos de oligarquias que estão no poder em Mauriti a mais de século.
Na tentativa de suavizar o tema podemos citar Padre Antônio Vieira que dizia: “O BRASIL TEM SEU CORPO NA AMÉRICA, E SUA ALMA NA ÁFRICA”, o quenão justifica a ausência de indignação da raça branca pátria, nem ameniza a dor histórica da alma africana,cujo o sacrifício a Igreja Católica coonestou com a publicaçãoda bula Romanus Pontifex, do papa Nicolau V;documento que autoriza os portugueses a escravizar os infiéis (negros)entre Marrocos e a Índia, indiscutivelmente, tal liberalidade se estendeu as terras brasilis. Com seus 300 anos de escravidão e o sofrimento 12 milhões de escravos, o Brasil enraíza os preconceitos e como diz Laurentino Gomes “a ideologia escravista, dá origem a ideologia racista”, fundadano discurso de infantilização do negro, através do tratamento de negrinho, de que os negros vieram para o Brasil aprender com os brancos e ser tutelados, de que são inferiores e sem inteligência. Não reconhecem que são os africanos que dominam o conhecimento sobremineração, escultura e metalúrgica,todavia esse tipo de conhecimento não é reconhecido pela elite branca, pois elaenxerga no preto apenas sua força bruta.

A pouca valorização do preto e os preconceitos que se disseminam pelo nosso município, pois como são historicamente profundos, se reflete não ausência de empoderamento da raça negra, na dificuldade de estar representado no mundo da política ou da administração municipal. A elitelocal de hoje usa outros artifícios para limitar a ascensão da raça negrano mundo da política: falta de peso familiar, os negros não atuam com raça solidária, mas dispersamente; nossas oligarquias agem cobrando solidariedade dos seus pares; o custo financeiro das campanhas é uma das alegações:“o preto nãotem dinheiro para custeá-las, como vai se meter em política, política é pra rico”. A debate sobre o empoderamento do negro em nosso município de começar observando o que disseZé Américo de Almeida: “Não há uma receita. É preciso resguardar o que há de resistência, valores universalistas, humanistas e planetários, guardá-los enquanto preparamos tempos melhores”.

Érica Bonito Félix
Pesquisadora Cultural