Minha carta de alforria
não me deu fazendas,
nem dinheiro no banco,
nem bigodes retorcidos.
(Adão Ventura)
Maria Felipa, uma das três heroínas negras da independência do Brasil, as outras duas ANA ANGÉLICAEMARIAQUITÉRIA; Maria Filipamulher negra, marisqueira, que trabalhava na indústria baleeira, e sobretudo, uma das grandes heroínas da guerra da independência do Brasil; e da Bahia, em 2 de julho de 1823, quando finalmente houve a rendição e fuga dos portugueses. Reconhecida, “acima de tudo, como um ícone, um exemplo, um modelo de mulher, negra, trabalhadora e corajosa”;descendente de sudaneses, nasceu na Rua da Gameleira, no atual município de Itaparica. “O professor de história da América, Rodrigo Lopes, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), chama atenção para o fato de que a ilha era um local estratégico para portugueses e baianos, pois está no caminho entre a foz do Rio Paraguaçu e a Baía de Todos os Santos, por onde entrava a maior parte dos víveres que abasteciam a cidade de Salvador”. “Por isso, ocupar Itaparica era condição indispensável para que os portugueses pudessem ter acesso a alimentos, que já não chegavam do sertão por terra, pois os baianos, liderados por Pedro Labatut, general francês contratado para comandar as tropas brasileiras, haviam formado uma barreira em Pirajá”.Segundo EnyKleyde narra em seu livro, “na Campanha havia as “vedetas”, no sentido de sentinelas ou vigias, que, dia e noite, vigiavam barcos próximos ou que vinham ao longe, com intenção de atacar a ilha”.”Maria Felipa de Oliveira era líder das ‘vedetas’, observando as praias, as matas, os caminhos e subindo em outeiros, principalmente o do Balaústre e o da Josefa, que ficavam próximos aos campos de guerra, para identificar os portugueses que desciam dos barcos para saquear”, diz a escritora em sua obra.O segundo episódio citado por Moura é o incêndio de navios portugueses causado por tochas, lançadas de uma canoa conduzida por Maria Felipa e suas companheiras, impondo assim perdas às tropas inimigas.”Uma mulher do povo, negra, marisqueira, transpõe o limite de sua condição de subalternidade e se constitui como sujeito político proeminente”.
É uma obrigação de todo brasileiro e brasileira resgatar os heróis nacionais, prestigiá-los, sobretudo aqueles que continuam, de qualquer maneira, no subsolo da história pátria. Na maioria das vezes por uma imposição racista histórica, que leva a figura feminina negra a margem da história, quando não risca da existência como protagonista.
Só o esforço de bons historiadores tem elevado Maria Felipa, mesmo que timidamente, ao proscênio da história, de maneira queelavem ocupando espaços na sociedade, e inserida nas comemorações oficiais do 2 de julho na Bahia, como também no 7 de setembro.
Nesse sentido,“Maria Felipa de Oliveira foi declarada, em 26 de julho de 2018, Heroína da Pátria Brasileira pela Lei Federal nº 13.697, tendo seu nome inscrito no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”, que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.

Érica Bonito Félix
Pesquisadora Cultural