Leitura e reflexão sobre os caminhos da educação democrática proposta pelo autor Anísio Teixeira em seu livro “Educação não é Privilégio” . Na leitura deste livro encontramos um modelo de educação e escola idealizada, praticamente utópica se contextualizada na realidade e cenário atual. Esta leitura, assim como outros textos dispostos na disciplina de Políticas e Legislação, visam agregar conhecimento sobre a área política no âmbito educativo.
Anísio Teixeira, filósofo, educador e administrador, percorreu uma trajetória na tentativa de implementação de uma educação de qualidade para todo o cidadão comum. Em seu livro: “Educação Não É Privilégio”, fica explícito o fato de que, o Brasil progrediu e se modernizou em tantas áreas, muitas delas “beneficiando” e até facilitando a vida do povo. A boa educação, porém, continuou seletiva e sendo privilégio da classe alta, contribuindo amplamente para as desigualdades sociais, configurando o povo comum em uma classe inculta, despolitizada e usada como massa de manobra.
Para Anísio a educação é o único meio de transformar o povo em protagonista dos acontecimentos e sua luta pela escola pública comum seria o verdadeiro caminho para a vida democrática. Alinhado aos ensinamentos de Dewey, ele baseou sua luta e seus discursos no raciocínio em que o direito à educação garante a igualdade de oportunidade dos indivíduos na sociedade. Anísio sabia que este objetivo só seria possível materializar-se através da garantia de um programa de formação comum e sem preconceitos. A proposta de Anísio é esta: dar educação comum para todos. Esta escola, a “Escola Comum do Homem Brasileiro”, visualizada nesta disciplina através de textos (Escolas Parque, entre outros), vídeos e também do livro de Anísio, Educação não é Privilégio, nos permite uma aproximação e conhecimento desta proposta. A partir da consciência desta realidade e proposta, é possível compreender as lutas de Anísio Teixeira em prol da qualidade da educação, das escolas públicas, do ensino primário e da educação integral.
Esta sonhada escola que deveria estar ao alcance de todo povo brasileiro, ainda hoje encontra dificuldades em sua execução, tendo como empecilho, as próprias políticas federais, estaduais, municipais e financeiras , entre outros. A luta de Anísio em tudo o que cerca os interesses da educação do povo brasileiro e o fato de ser pioneiro na formação do pensamento pedagógico no Brasil, merece a admiração de nós, futuros educadores, pois é uma luta acima de tudo democrática , por igualdade e pelo bem comum. Anísio não deixou-se intimidar em momento algum, e através de suas propostas convida a sociedade para construir uma nova escola. Uma escola que promova a formação integral do homem, que seja mediadora, incentivadora e que auxilie o educando a ser protagonista de sua formação. Anísio também deixa claro que o segmento mais importante da educação é o ensino primário, onde são formados e criados muitos dos primeiros processo cognitivos e concepções de sociedade, como igualdade, afetividade, coletividade, direitos.
A educação primária é o foco do autor nas questões de propostas e mudanças, e a partir dela também surge a idéia de educação integral, pois um programa de educação primária de qualidade não tem como ser ofertada em tempo parcial. Esta educação integral deveria ser composta por programas completos de leitura, escrita, ciências gerais, artes, desenho, música, dança e educação física. Neste contexto, essa nova escola não apenas educa, mas aprimora habilidades, cultiva aspirações, alimenta, desenvolve o pensamento filosófico e a reflexão. E nessa perspectiva a escola pública é caracterizada como a “máquina de fazer democracia”. Infelizmente, podemos perceber que este modelo de educação difundida, idealizada e desejada ao povo brasileiro continua sendo privilégio de alguns.
Atualmente encontramos nos meios educativos das redes estaduais e municipais o modelo de educação mecânica, catequizadora , limitada, pobre e escassa. Principalmente nas escolas que estão localizadas nas periferias, perpetuando esse ciclo de desigualdade e pobreza tanto financeira quanto intelectual. A educação de qualidade ainda é elitista, salvo raras exceções. Refletindo categoricamente sobre as propostas de Anísio para a Educação integral vejo o quão longe ainda estamos deste modelo educador democrático, pois atualmente apenas retém o aluno no espaço escolar por um período mais longo não efetivando de fato uma formação integral.
Não se trata apenas de selecionar escolas com o mínimo de infraestrutura possível e repassar uma verba que mal cobre a alimentação para manter alunos em período prolongado. Mas sim de todo um conjunto de ações, espaços planejados e infraestrutura que viabilizem a socialização, a convivência, a recreação, a prática de esportes em diversas modalidades, as experiências de estudo, oficinas , leituras e as experiências artísticas e musicais. Segundo Anísio (1994) essa nova escola de tempo integral “ visa oferecer à criança um retrato da vida em sociedade, com as suas atividades diversificadas e o seu ritmo de preparação e execução, dando-lhes as experiências de estudo e de ação responsáveis” (p.163).
Entendo que para o autor, esta escola não pode ser limitada em espaços e recursos, mas ser “generosa” em todos os seus aspectos; neste caso o ideal é que este espaço seja composto de um teatro generoso, uma área de convivência generosa, que haja árvores frondosas, que reúna cultura, artes, ensino, recreação e práticas de trabalho. E complementando, que tenha um “clima feliz”. Em minha idealização para esta escola, vejo a importância de um plano escolar que coloque o educando como protagonista de escolha e de interesses, e o professor na posição de quem se dispõe também a aprender, e não apenas como detentor de conhecimentos. Esta escola poderia adaptar-se à vida de cada indivíduo, no intuito de compreendê-lo e orientá-lo dentro do processo de formação, já que cada um é exclusivamente único, vindos de contextos sociais e familiares diferentes, e nela, o educador seria um mediador/ajudador e não o autoritário ditador de regras.
Em algumas observações que tive a oportunidade de fazer ao longo destes três semestre, todas em escolas públicas, fica claro a disparidade entre o modelo rea de educação vigente nas escolas e o modelo projetado como ideal por Anísio Teixeira. Tal diferença não se dá apenas em um, ou outro aspecto, mas num contexto geral, incluindo infraestrutura, disciplinas, planejamento didático, etc. Também ficou claro a predominância do autoritarismo, da escassez de recursos, a presença apenas das disciplinas básicas e a pouca importância dada ao aspecto do protagonismo na formação dos educandos.
(Reflexão realizada para a disciplina de Políticas e Legislação; Profa Jaqueline Moll; 2017/1; UFRGS)
REFERÊNCIAS
TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora