Avaliarmos a importância da Lagoa de Mauriti (Lagoa de Quichese) para nossa cidade, recorremos a comunidade mãe, vila Buriti, no século XIX, que surge como toda cidade no entorno de recursos naturais abundantes. Portanto, a combinação de vários elementos levam ao desenvolvimento das cidades, como: revolução agrícola, comércio, defesa, localização geográfica entre outros; no caso de Mauriti o magneto que atraiu as pessoas para comunidade nascente foi a LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA, em face dos processos geológico e hidrológico, típico de algumas áreas da região semiárida do Nordeste brasileiro; a área em torno da Lagoa do Quichese foi escolhida para implantação da vila, em face do corte geológico que lhe é peculiar: ao norte o observador se defronta com solos de massapé, ao sul solos arenosos e argilosos, a oeste a riqueza de água e solos que se espraiam as margens da lagoa, como: brejos e solos sedimentares e a leste os serrotes com elevações pedregosas que se aprofunda ao tocar a CE- 384 que liga Milagres a Mauriti.
A formação de lagoas como a do Quichese geralmente ocorre devido à acumulação de águas pluviais em depressões do terreno, que podem ser alimentadas por rios intermitentes (São Miguel) e nascentes que durante grandes estiagens, o lençol d’água mantém vivas fauna e flora, retroalimentam o ecossistema e mantém a sustentabilidade da biodiversidade. Por bondade da natureza estamos inseridos na Bacia Sedimentar do Araripe, integramos o aquífero Missão Velha que irriga nosso subsolo, alimenta vários poços artesianos e diversas fontes naturais; a constelação de pequenos pontos d’água que corriam ou fluem, ainda, para a lagoa, por surgência, alguns, em seu interior, como: olho d’água das Aminguas, Cágado, Mandacaru e Pipiri; outros no seu entorno, alguns, infelizmente, secaram: na propriedade da família Cartaxo Melo, o bebedouro, batedor, onde se lavava roupa, a cacimba para o consumo humano e a fonte que alimentava o antigo banheiro; no sítio da família Sampaio olho d’água de beber, bebedouro do gado e palmeiras; ou pontos d’água como de Zé Salviano, Carolino de Sousa Leite, Emídio Martins, a bica, no centro da cidade; o olho d’aguinha nossa lavandaria pública: onde um couro de mulheres, de cócoras, entoava cantigas populares, sob o som do manejo rítmico de peças de roupas esfregadas em grandes pedras; um balé de pequenas gotas d`água brilhavam ao sol antes de se espalharem pelo lajedo, ou evaporarem, para retornarem em forma de chuva. A abundância de nossa água de subsolo, ainda flui de minadores, como uma pequena nascente na área externa da Delegacia de Polícia, à rua Chagas Sampaio e a fluência drenada na frente da igreja matriz, canalizada e jogada na Lagoa por trás do Parque de Feira Surdeley Pereira Leite; recursos hídricos que a natureza reservara e em sua caminhada preguiçosa vão pouco a pouco realimentar a lâmina d`água da Lagoa do Quichese.
A Lagoa do Quichese, em particular, desempenha um papel importante no ecossistema local, servindo como um reservatório de água para a fauna e flora da região, além de ser um recurso hídrico significativo para a população local, especialmente em períodos de seca. A vegetação ao redor da lagoa também ajuda a manter o equilíbrio ambiental e a conservar a biodiversidade. A Lagoa é um marco histórico importante para a cidade. Seu nome tem origem nas tribos indígenas Tapuia, Tupiniquins e posteriormente os Guaneces que habitavam a região antes da chegada dos colonizadores portugueses no século XVII. A lagoa é considerada um ponto de referência no início da história de Mauriti, com relatos de que as primeiras atividades de colonização aconteceram ao seu redor.
Em 1706, a lagoa foi concedida em sesmaria (um tipo de lote de terra para cultivo) pelo capitão-mor Gabriel da Silva Lago; a partir de então a Lagoa passou a ser chamada de MURITI, (Termo indígena que denominava uma palmeira HUMBURITY, classificada como MAURITITIA VINÍFERA). Este evento marcou o início do desenvolvimento da área, que mais tarde se tornou BURITI – pela presença da tribo dos BURITIS, do ramo TAPUIA; com o tempo transforma-se no núcleo do município de Mauriti. A partir de então, a região passou por diversas transformações, com presença de sesmeiros: Rodrigo Lago, João de Barros Braga, Capitão Antônio Pereira da Cunha e outros. Ao longo dos anos e por sucessões hereditárias, o Capitão Miguel Gonçalves Dantas torna-se herdeiro do SÍTIO BURITI GRANDE e funda a cidade de MAURITI. Ali, onde está fincada a Igreja Matriz, o Capitão Miguelzinho (como era tratado), com a orientação do Padre Ibiapina, faz a demarcação do local onde deveria ser construída a igrejinha de Nossa Senhora da Conceição; a igreja voltada para a Lagoa do Quichese, vislumbra os sítiosno entorno da Lagoa, com suas riquezas de água , solo e a exuberante vegetação que compõem o quadro da natureza que deu origem a cidade de Mauriti; acolheu viventes da região do Cariri, dos territórios da Paraíba, Pernambuco e Bahia. Embaralhou na vida local, através de casamentos, a constituição de novas famílias, cuja descendência compõem hoje a sociedade diversificada, mas homogênea em suas relações pessoais, que formam a sociedade mauritiense.

FRANCISCO CARTAXO MELO, Aposentado como professor da UECE, economista/Analista de Planejamento da Seplag/Iplance Consultor organizacional FLACSO (Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais)