Folha de São Paulo melhores filmes de 2023, segundo críticos e jornalistas

Enquanto a Marvel não emplacou nenhum título como o esperado, outros filmes ganharam merecido destaque em 2023 —alguns depois de passar por festivais internacionais como Cannes, Berlim e Veneza, enquanto outros rodaram pelo circuito nacional.

Folha reuniu sete profissionais envolvidos com a cobertura de cinema para indicar, cada um deles, cinco dos melhores filmes lançados neste ano.

A seleção levou em conta filmes que foram exibidos também em festivais e mostras ao longo do ano no Brasil, alguns deles entrando em circuito no começo do próximo ano.

ALESSANDRA MONTERASTELLI
REPÓRTER

La Chimera
Direção: Alice Rohrwacher. (Estreia em circuito em 2024)
A história de um arqueólogo envolvido com uma gangue que trafica relíquias se torna uma tragicomédia com ares de fábula pelas lentes sensíveis de Alice Rohrwacher, mesma diretora de “Lazzaro Felice”. Fantasmas individuais e coletivos assombram os personagens numa narrativa sobre luto, pertencimento e patrimônio. O cenário é uma Itália de glórias desbotadas, em que o existencialismo ganha um tom lúdico pelo italiano articuladíssimo de Carol Duarte.

Afire
Direção: Christian Petzold
Premiado em Berlim, “Afire” merece ir ainda mais longe. Conhecido por destrinchar as contradições da sociedade alemã em melodramas onde o espectador joga um jogo de detetive com a psiquê dos personagens, dessa vez Petzold mira numa sátira sobre artistas, em especial homens, que se levam muito a sério, ao mesmo tempo em que faz uma homenagem ao romantismo alemão. Tudo com uma faísca de realismo fantástico, acendida pela queimada florestal que se aproxima dos protagonistas quase como uma força sobrenatural.

Tár
Direção: Todd Field (Disponível no Globoplay)
Um relato cortante sobre como o reconhecimento e o sucesso podem levar à ruína. No que provavelmente é o auge performático de Cate Blanchett, vemos a protagonista digladiando com o próprio ego em um cenário minimalista que é um deleite para os olhos. Ninguém está a salvo de si próprio, e a angústia é saber que poderia acontecer com qualquer um. Depois do papel, Blanchett admitiu estar exausta de atuar.

Anatomia de uma Queda
Direção: Justine Triet (Estreia em 22 de fevereiro)
O vencedor da Palma de Ouro em Cannes é uma profunda e dolorosa investigação sobre a vida a dois e suas contradições, disfarçada de investigação policial. Nas entrelinhas está uma provocação sobre gênero e o que é esperado das mulheres em um casamento.

Assassinos da Lua das Flores
Direção: Martin Scorsese (Disponível em plataformas de vídeo sob demanda)
O diretor explora nova faceta e a violência como elemento fundador da América e lega ao mundo mais um jagunço torturado por algo culpa cristã. Mas o épico nunca ofusca o intimista nessa que também é uma história de decepção amorosa. Cinemão para gente crescida, não para quem ainda vibra com filminho de super-herói.

Tár
Direção: Todd Field (Disponível no Globoplay)
Enquanto Michael Haneke não lança nada relevante há mais de uma década, coube a Field o grande comentário sobre o estado das coisas. Sim, muito já se falou de como Cate Blanchett está ótima como uma maestrina embriagada pelo poder, mas o longa tem outros méritos, entre eles a ambiguidade, essa coisa rara em tempos de filme-textão.

GUILHERME GENESTRETI
EDITOR DE TURISMO, COMIDA E DO GUIA FOLHA

Monster
Direção: Hirokazu Kore-eda (Em cartaz nos cinemas)
A premissa, uma história sobre bullying escolar, era um convite à pieguice. Mas o diretor japonês não só escapa da armadilha graças a seu estilo contido como se ancora num dos melhores roteiros do ano, que gira em torno de três pontos de vista sobre um mesmo evento. O resultado é ainda melhor do que “Assunto de Família”, seu filme mais famoso.

Segredos de um Escândalo
Direção: Todd Haynes (Estreia em 18 de janeiro)
Jogos de espelho e sutilezas várias reforçam o poder da metáfora nesse longa que tem algo de “Persona”, de Bergman, mas no mundo das notícias de fofoca. Haynes, ás do melodrama, embala uma sátira ora detetivesca ora tragicômica e que atinge o seu ápice nas sucessivas vezes em que puxa o tapete do espectador.

Rotting in the Sun
Direção: Sebastián Silva (Disponível na Mubi)
O filme mais recente do diretor chileno, do ótimo ‘Crystal Fairy e o Cactus Mágico’, é quase um cavalo de Troia. Atrai o público queer com promessas de exibir corpos sob o sol, mas se mostra um espelho —nada distorcido— do narcisismo dessa comum

(CONTINUA NA EDIÇÃO Nº 21)

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