Maria Pereira Alencar (Dona Maroquinha), uma mulher além de seu tempo; em um Mauriti provinciano e machista, se envolveu na política em uma época (1935-1942) que o papel da esposa era as prendas do lar.
Sua trajetória como primeira vereadora de Mauriti, desafiando, em um momento histórico convulsionado, em que o país estava submetido a ditadura Vargas, e os grotões do sertão nordestino, submetido ao domínio e mando do coronelismo, as mulheres, simplesmente, vagavam pelos casarões, como se fossem invisíveis, arrodeadas por uma reca de filhos, entre paredes e bacamartes. Maria Pereira de Alencar, casada com Fausto Alencar, quebra a inercia da submissão ao mandonismo machista, sai da cozinha para se projetar na política mauritiense; Fausto, filho do pernambucano de Exu, Henrique Pereira de Alencar e Maria Ponciano de Oliveira, radicados em Mauriti, como dizia, “sob a benção e orientação do Padre Cícero”, aqui fixou residência e constituiu família: o filho Silveira casou-se, em Barro, com uma neta de José Inácio; os outros dois, casaram-se em Mauriti: Gersa, desposou Chagas Sampaio e Aldo uniu-se em matrimônio com Argina de Araújo Lima, filha do coronel Augusto Leite, de Quixabinha.
Dona Maroquinha filia-se a corrente política de Neco Santana, interventor e primeiro prefeito eleito dos mauritienses; essa amizade levou Dona Moroquinha a ser eleita vereadora, compondo as hostes políticas de Manuel Santana na Câmara Municipal; é importante observar que as mulheres brasileiras “conquistaram o direito de votar (e ser votadas), somente, em 24 de fevereiro de 1932, pelo decreto 21.076, do então presidente Getúlio Vargas, que institui o Código Eleitoral”.
O prestígio de Maroquinha junto ao prefeito Neco Santana se estendeu ao genro Chagas Sampaio, que por indicação do gestor municipal passou a responder, em sua ausência, como prefeito da municipalidade; e, posteriormente, conseguiu sua nomeação como tabelião, assumindo, assim, a titulação do Cartório do Segundo Ofício, em substituição a José Quintino Leite.
A importância histórica de Dona Marroquinha, para o município de Mauriti, como política e vereadora, se reveste de uma grande conquista para as mulheres mauritienses, seu empoderamento no parlamento municipal se assemelha as vitórias, nas décadas de vinte e trinta, que aconteceram no Brasil: com a pioneira Luiza Alzira Soriano Teixeira, sua luta e participação no processo eleitoral, a primeira mulher brasileira, e em toda América Latina, a disputar e a eleger-se pelo voto popular; ou a Carlota Pereira de Queiros, a partir da década de 1930 e a Bertha Lutz, em 1950, alçadas ao parlamento federal; nesse sentido vale registrar as eleição da primeira vereadora da capital cearense, Maria Eulália de Morais, em 1950; uma vez que, somente, após a década de 1970 tivemos nossas primeiras parlamentares estaduais: Maria Luiza Fontenele, Douvina de Castro, entre outras. Portanto, pelo que se sabe Maria Pereira de Alencar foi a primeira vereadora do Ceará, uma mulher guerreira centrada na dedicação a sua família e advogada dos interesses de sua terra; com grande senso de humanidade e espírito cristão, chegou a, tacitamente, perdoar o homicida de seu marido e ajudar por um bom tempo, com feiras, cesta básica, a família de Zé Nazário, o assassino.

ARTICULISTA DO
ESPAÇOBURITI
ESCREVE SOBRE A
MULHER
MAURITIENSE