Buriti Grande, que ao passar a município recebeu o nome de Mauriti, era constituído por uma constelação de comunidades rurais, em cada uma delas destacava-se uma família,sob omando de um chefe político;esse ao estender suas relações de compadrio sobre parentes e agregados, consagrava seu domínio inconteste em sua área de atuação, foi assim nas regiões: do Coité,com os Furtado, Maranhão, Figueiredo e Lacerda;Quixabinha e Umburanas Furtado e Leite; Buritizinho Teles, Cavalcante, Pimenta.
Como um novo tipo de relacionamento humano,Buriti Grande emerge como vila no final do século XIX, pelas mãos do Capitão Miguel Dantas de Quental, cuja vida foi consagrada a paz e negociação; residente na casa grande do Sítio Dantas, seu feito quebra a inercia antropológica do mandonismo local, uma vez que as comunidades nucleadas sob o domínio dos coronéis e de suas famílias vão se libertandodo assédio dos donos das decisõesà medida que migram para a vila de Mauriti; portanto, ao assumir o desafio de edificar uma nova comunidade, formada por gente do entorno regional, Capitão Miguelzinho não se submete ao mando dos coronéis locais, construí uma nova paisagem social no em torno da igreja de Nossa Senhora da Conceição;a construçãoda capela de Nossa Senhora da Conceição no SítioBuriti,são os primeiros passos para consolidação do município de Mauriti. O município é instalado em 28 de agosto de 1890,mas em 1895, por decisão da Câmara Municipal, Mauriti sofreseu primeirorevés políticos, perde a titularidade de município, o mesmo acontece em 1928 quando, passa a ser distrito de Milagres. No interregno 1895/1928, Mauriti em 1924 ressurge como município, assume a prefeitura Domingos Furtado Maranhão, é eleita a primeira Câmara de Vereadores, elegendo como presidente Teodorico de Sousa Leite, filho do paraibano Manuel Salviano de Sousa Leite e Delfina de Sousa Leiteque migraram para Mauriti, com os cinco filhos,da localidade de São José de Piranhas, distrito de Cajazeiras Paraíba.Teodorico consolida a saga política dos Sousa Leite, casado com Maria de Sousa Leite, filha do Major Zé Francisco, ex-vereador pelo município de Milagres, no exercício de delegado local; Teodorico chefe político de Mauriti, empreendedor nato, cultor da paz e um fervoroso democrata.
Em 1930/1934 Mauriti retoma a situação de município, tendo como prefeito Teodorico de Sousa Leite,líder doclã Sousa Leite, empreendedor intrépido, agropecuarista, proprietário da fábrica de caruá,funcionando no distrito de São Miguel; e dono da usina de beneficiamento de algodão instalada na sede do município.Político vocacionado e liderança inconteste da UDN, em Mauriti, Teodorico consegue conciliar as atividades industrial e de agropecuarista com as lides políticas, agora como chefe político da UDN, orientando o filho e genros no exercício da política: elege prefeito de Mauriti o genro José Alfredo Filho (1947-1948); o filho José Teodorico de Sousa Leite (1951-1955). Como líder da UDN conseguiu, ainda, eleger prefeito seu parente Adauto Leite de Figueredo (1946-1947) e o correligionário Dr. Fernandes Teles Cartaxo (1948-1950). Como chefe partidário no dia da eleição era incansável, vocacionado para a luta política, fazia a coordenação, fiscalizava o pleito, visitando sessões eleitorais, dando ordens para que consumada a eleição tivesse bom resultado eleitoral; mas ao não conseguir eleger o genro Dr. Dagmar Cardoso de Medeiros, derrotado por José Leite da Costa – PSD – (1955/1958), resolve se afastar da política.

Nas palavras do ex-deputado Januário Feitosa, em EMÉRITOS CEARENSES: Teodorico, “Tinha grande predileção pelo cinema e pelo teatro, diversões que o interior não dispunha ainda naqueles velhos tempos aurorais do século. No entanto, nas suas costumeiras viagens tanto a Fortaleza ou paraRecife, aproveitava bem esses entretenimentos tão sociais. Depois, ao transferir-se para Fortaleza, era comum encontra-lo nas nossas casas de diversões mais frequentadas”.Continua Januário “Condenava as discussões, as rixas e a violência. Reservado, conveniente, tranquilo, não demonstrava medo ou tristeza, e mesmo nas horas graves ou difíceis, só os que conviviam com ele, sabiam o que lhe ia n’alma. Teodorico, …, era na verdade um homem vaidoso e primava pela elegância pessoal. Vestia-se com o rigor da moda, e seus ternos eram confeccionados no Recife ou Fortaleza, pelos melhores profissionais do ramo, usou botinas de pelica, bengala, até que essas peças caíssem na moda, como realmente caíram para sempre. O terno de casimira era guardado para ocasiões especiais ou eventos nobres. Os de linho escocês, branco, ou creme, usava-os, diariamente, com chapéu de feltro durante o trabalho cotidiano em sua fábrica de beneficiamento de algodão”.
Acrescenta Januário Feitosa: “Teodorico de Sousa Leite, homem honrado e lutador, foi um exemplo dos mais dignos para nossas gerações, de hoje e do futuro. O seu nome não deve ser esquecido. A sua memória, como a de todos os intrépidos, os justos e inflexíveis homens de bem, deverá imortalizar-se no coração na história do Ceará”. Eu digo, em Mauriti, deve eternizar-se no panteão dos eméritos mauritienses.

FRANCISCO CARTAXO MELO
Professor da UECE aposentado Economista/analista de Planajemento
Seplag/Iplance aposentado Consultor organizacional FLACSO (Faculdade
Latino Americana Ciências Sociais)